Tomada de posição da turma de Didática da Geografia do Mestrado em Ensino de Geografia sobre o assassinato de Samuel Paty
O assassinato do professor de História, Geografia e Educação Cívica, Samuel Paty, no passado dia 16 de outubro, no Collège du Bois d’Aulne, em Conflans-Sainte-Honorine, França, provocou-nos grande tristeza e consternação.
Pela comunicação social, soubemos que, na aula de Educação Moral e Cívica, antes de projetar e discutir as caricaturas do Profeta Maomé, aquele docente teve o cuidado de informar previamente os alunos da turma da atividade que iria ser realizada, dando liberdade de sair da sala de aula aos alunos que se pudessem sentir incomodados pela visualização daquelas.
Este professor, de que a maioria de nós seria colega num futuro próximo, estava a promover, junto dos seus alunos, a leitura crítica de representações que tinham estado no centro de um ataque terrorista a jornalistas de um órgão de comunicação social, como é conhecido.
Num mundo crescentemente globalizado, que aproxima territórios e povos mas que, contraditoriamente, promove desigualdades e estimula radicalismos, a construção da tolerância e da compreensão internacionais entre povos e culturas tem renovada urgência. É uma construção que não se faz de discursos vazios, alegadamente neutros, mas do debate dos dilemas atuais, em que os alunos, com o apoio dos seus professores, clarificam os seus valores sobre problemas concretos, os confrontam e discutem. A escola é, continua a ser, um espaço privilegiado de formação pela reflexão e crítica, tal como Samuel Paty a concebia e praticava.
Os alunos e o docente de Didática da Geografia/1º ano do Mestrado em Ensino de Geografia da Universidade de Lisboa condenam veementemente o assassinato de Samuel Paty, expressam inequívoca solidariedade à sua família, bem como aos seus alunos, colegas e ao Collège du Bois d’Aulne.Educar é formar pelo debate - e para o debate.
O assassinato deste professor de História, Geografia e Educação Cívica sublinha como a construção de uma sociedade democrática e livre tem nas salas de aula um espaço incontornável – que, como aqui sucedeu, pode ser perigoso. Através de nós, que na esmagadora maioria estamos a iniciar a nossa formação como docentes de Geografia, queremos que o exemplo e legado de Samuel Paty permaneçam vivos.
Mas este é um desafio que implica todos os professores.Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, 26 de outubro de 2020
A turma de Didática da Geografia do Mestrado em Ensino de Geografia da Universidade de Lisboa
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| Homenagem a Samuel Paty |

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